25 de novembro de 2019

Amizades "À La Carte"


Eu saí do twitter - assim como havia saído do Facebook, assim como nunca tive Instagram, assim como daqui uns dias devo abandonar o WhatsApp. Não estou travando uma guerra particular contra as redes sociais; eu até ainda posso ser encontrado em outras redes... Ainda posso ser encontrado no Anygram, ainda mantenho o WhatsApp (mesmo pensando em abandona-lo); posso ser encontrado no Skoob, e-mail, celular; estou disponível para um bate papo numa praça. Eu estou aqui!


Então saiu por charminho? Navegando numa onda diferentona para nutrir um sentimento de exclusividade? Não! Não é isso... Eu saí por três motivos, aos quais eu explico agora...

Primeiro motivo:

As pessoas não saem mais uma com as outras. Elas acham que uma mensagem no WhatsApp, uma curtida no Facebook ou um comentário no Insta, já é o suficiente para suprir presença física. Pior que isso: as pessoas se deixaram ser convencidas de que o mundo ta mais violento, ou que elas são super ocupadas, ou que elas tem um super controle financeiro que as impedem de sair por que isso é um gasto. Tem deixado de dar caminhadas, tem deixado de marcar encontros; algumas pessoas são medidas pelo tamanho da agenda.

"Deixei de ir aí por que estou sem tempo!"
 "Você mora longe!"
 "Não vou aí por que não tenho carro".


Isso tem feito com que as pessoas tenham deixado de se encontrarem pessoalmente para marcar encontro no Facebook. Muito irônico que aquilo que foi criado para conectar pessoas tenha evoluído a tal ponto, que hoje as separe.


As pessoas não saem mais com as outras; quando se encontram fisicamente, não estão presentes... Não são raras as vezes em que encontramos nos bares pessoas debruçadas sobre seus "smartphone", conversando com outras pessoas que não estão ali; nos teatros, pessoas que preferem ver o espetáculo através das telas enquanto gravam o show para assistir mais tarde ao invés do desfrute do "ao vivo"; no cinema pessoas que não se incomodam de emitirem luz nos olhos dos outros para que se consiga a famosa "selfie".

Tudo para estar conectado!

A facilidade de conexão com a internet acabou criando as amizades por atacado, alimentada e comercializada através das "selfies" e exposições. As redes sociais se transformaram churrascarias; no cardápio você escolhe seus amigos "à la carte"; os contatos se mantém numa especie de "rodizio"; ignoram, com isso, que para o churrasco existir, é preciso que o boi esteja morto.
A amizade está morta nas redes sociais...
Esse é o meu primeiro motivo.

Segundo motivo:

As pessoas já não se importam mais com a verdade; o que vale é estar certo. Ponto! Com o objetivo de sustentar suas crenças (politica, social, religiosa) tem se permitido todos os tipos de fuga com todos os tipos de argumentos. Não foram poucas as vezes que ouvi nesse ano que "isso é o que você pensa" ou "isso é a opinião de cada um" ou o meu preferido "temos que respeitar a opinião de cada um".

Não, não temos que respeitar as opiniões de cada um!

Temos que respeitar as verdades sociais e não as opiniões pessoais... Opinião precisa ser ouvida, analisadas, estudadas e aí sim decidir se será respeitada ou não. Quando uma opinião fere uma verdade, ou interfere um direito universal, ela precisa ser desrespeitada. A vida em sociedade carece de verdades e elas são construídas através do diálogo, do esforço, do senso comum; muitas das vezes são construídas aplicando o método cientifico, outras vezes através de teorias filosóficas. Cientistas construíram o mundo não através de opiniões. A arte, a medicina e a ciência, precisam está próxima da verdade...

As redes sociais deu voz ao "achismo"; pessoas que tratam aquilo que temos como verdades como falácias, "mimimi", teorias conspiratórias; emitem opiniões sem qualquer embasamento, muitas vezes com a mais falta de bons modos, lógica ou empatia e assim vão moldando um mundo tosco, feio doentio...
Às redes sociais, falta a verdade...
Esse é meu segundo motivo.

Terceiro motivo:


Falta às redes sociais, bons modos. Falta tratar bem o outro e ter consciência de classe. Falta consciência de classe para entender sobre dificuldade financeira; entender que a dificuldade de não ter uma bicicleta nova não é a mesma dificuldade de não ter o que comer. Falta consciência; para entender que se você é branco, não cresceu em favela e não teve que andar quilômetros para poder chegar até sua escola, você é um privilegiado e como tal, deve ter cuidado naquilo que defende, naquilo como entende, naquilo como prega.


Falta consciência nas redes sociais. Consciência para estar disposto a defender a moral e não produzir uma moral liquida, que se conforma, que muda de acordo com o recipiente. Consciência para entender sobre direitos, deveres e entender que quando sua felicidade está incomodando alguém, há a possibilidade sim de que não seja inveja, "mimimi"; há a possibilidade de que sua felicidade  atrapalhe nos meus direitos; a isso damos o nome de EMPATIA.
Às redes sociais falta EMPATIA.
E esse é meu terceiro motivo.

Por não querer caber em uma agenda; por não querer amizade "à la carte", por não querer ter uma moral liquida e inconsciente e por querer fazer parte de alguma rede social, eu saí do twitter...

E das redes sociais...

3 comentários:

  1. A carapuça serve de um jeito diferente, de acordo com a ótica de cada um. Eu mesmo me vejo nesse seu primeiro motivo.
    Os outros sei q existem mas não pratico...
    Enfim, texto muito bom, faz pensar sobre esse vício mas redes.
    Facebook já abandonei. Tenho o Messenger q eh pra se alguém que não tem meu número precisar me achar. Ou o contrário, hehe.
    Twitter nunca tive
    Uso o Instagram, YouTube e Whatsapp

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  2. A muito vejo e ouço alfinetadas, críticas as redes sociais, mas nunca uma tão elaborada, uma tão pessoal.
    Não sou um fã em condicional das redes sociais, mas continuo as usando por serem grandes ferramentas do mundo moderno (o que obviamente não está em pauta aqui) deixar de usar tal aprimoramento, considero um retrocesso .
    Depois, o que deixará de usar? Internet, energia elétrica? Apenas porque o uso da grande massa não te agrada. (E prevendo sua cara, Não Sr. Rosário não estou fazendo uma comparação pífia entre redes sociais e energia elétrica foi apenas para elucidar meu argumento).
    Bom, contudo o fato de comentar esse belo e muito bem escrito, é que fui atingido de alguma forma, com certeza devo usar as redes de uma forma que não considera ideal, e que descobri que eu também não e sequer tenho/uso muitas redes sociais.
    Curto te ver escrevendo cara, vou ler os próximos.

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    1. Geralmente não respondo a comentários, mas para esse seu, abrirei uma exceção só para indicar um outro post

      https://valdineirosario.blogspot.com/2019/09/dedo-em-riste.html

      Fala um pouco sobre o retrocesso no uso das redes sociais sobre ela não ser uma ferramenta do mundo moderno.

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