16 de agosto de 2021

O Padre, a fome, o Cristo e Um não Cristão.

Ouvi de algum lugar, ou li em algum lugar, críticas a um padre que levava de comer a quem passava fome. Pessoas dizendo (ou escrevendo) que não conseguiam ver uma boa ação no que o padre fazia. Dos dois lados, cristãos sendo a favor e contra a ação do padre.

Antes de mais nada, gostaria de registrar meu posicionamento em relação ao cristianismo: não sou cristão! Tenho o mínimo de conhecimento em história, mas "sei" que o cristianismo é uma organização política, fundamental conservadora, que para que desse certo, acabou absorvendo e se misturando à outras crenças religiosas. O cristianismo se estruturou de forma muito bem estratégica para manter seus crédulos subservientes, conservando os privilégios de alguns poucos ricos, que  bajulam outros cristãos ricos que estão no poder. 

Raramente se vê pobres cristãos mundando sua classe social. Isso é comum em qualquer organização social/política/econômica; alguns pobres cristãos conseguem romper, a muito custo, a linha da pobreza e são feitos como regra e exemplo de progresso dentro da seita (e não se engane, cristianismo é uma seita), mas esses são excessões, usados e criados para manter a organização viva e funcionando. 

Todavia, esse não é um texto sobre a história da cultura judaico/cristã (e/ou seus "derivados"). Talvez em algum momento mais oportuno, eu volte ao tema nesse blog e consiga me aprofundar mais sobre o assunto. Por ora, esse texto vai falar do padre, líder religioso de uma das (ainda) maiores escolas cristã do Brasil: o catolicismo.
Pois bem: li em algum lugar, que não se conseguia vê a boa atitude do padre em dar de comer à pessoas com dependência química, em situação vulneravél, moradores de rua. Então! Você não "conseguir ver" as boas atitudes acontecendo, não quer dizer que não haja boas atitudes acontecendo. Óbvio que nenhuma boa ação está livre de crítica. Você pode sim, tecer críticas a trabalhos sociais voluntários, mas essas críticas precisam ser bem mais fundamentalizadas, ao invés de limitar a ação ao "seu ângulo de visão". Isso é para evitar o risco de cair em discurso raso, achismos e suas vertentes. Armadilhas argumentativas, como criar situações que não existem para trazer soluções fantasiosas. 

Ao fazer uma critica, você precisa apresentar seus pontos com base em algum contexto ou fundamento. Você pode, por exemplo, listar casos de corrupção, trazer matérias, documentos e procrurar exemplos que fortalece seu ponto de vista. Isso não quer dizer que você estará certo, mas pelo menos, terá um ponto. Qualquer coisa que fuja disso, pode ser facilmente considerado um discurso raso.

Agora, independente de qualquer coisa, há algo mais sério do que criticar um padre, que veja bem, é um líder religioso cristão que acredita que ta pregando os ensinamentos de Cristo. O que pode ser mais sério do que criticar o padre? Resposta: criticar quem leva comida a quem tem fome! Considero esse um caminho perigoso. Estranho e perigoso.

E justifico por que considero perigoso: há um grupo de pessoas passando fome, no bairro, na cidade, no mundo; o local não é relevante, a fome é. São humanos (doentes, drogados, a margem da sociedade, não importa como você o rotule, são antes de qualquer adjetivo que se possa dá, um substantivo: humanos).

Todo ser humano deve ter acesso ao mínimo básico para estar na linha do que é considerado condições humanas civilizadas. É dever do estado prover acesso ao básico para vida comunitária. Acesso a oxigênio, segurança, hidratação e nutrição. O Estado não pode, NUNCA, limitar a espécie humana a essas quatros demandas que é necessário à vida. Quando o faz, está  violando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

Mas todos nós sabemos que o Estado é deficiente. Ele não chega para todos e não provém acesso a todos. Então há sim pessoas que não tem acesso ao básico e passam fome, por exemplo. Sabendo disso, existem pessoas que de alguma forma querem ajudar; no caso da fome, estão levando de comer a quem tem. Se essas pessoas deixam de fazer o que faz, quem fará? Enquanto se discute quem matará a fome de quem tem fome, faremos o quê? Deixar as pessoas morrer de fome? Eu penso que não. Aqui se pode argumentar sobre cobrar políticos e pressionar o Estado, ou o tal Mercado...

Sim! Devemos pressionar o Estado, "o Mercado" e tudo mais, mas quem passa fome tem pressa, não participa dessa discussão e continua passando fome, o que me leva ao estranhamento.

Quem passa fome tem pressa, questionar quem leva comida a quem tem fome, ignora essa pressa. As pessoas que tem fome não tem tempo para se questionar sobre as coisas da vida. 
Fome gera submissão e não revolução.

Ora, se formos considerar a qualidade da ação, vamos observar as coisas de dois ângulos, o que vai gerar uma inversão de valor em um dos ângulos. Ou "transvalorização" do valor.
Os ângulos podem surgir de uma pergunta: É ruim dar de comer a quem tem fome? Quando a resposta é não, acabou a questão, deve-se dar de comer a quem tem fome e essa será a ação.

Mas quando a resposta é sim, é ruim dar de comer a quem tem fome, então o inverso da frase é verdade: é bom não dá de comer a quem tem fome. Bom????

Se essa frase não te soa estranha "é bom não dar de comer a quem tem fome", então aqui não haverá mais nada que eu possa escrever que fará aquecer seu coração; a ideia de humanidade falhou e mensagem de Cristo foi em vão.

E olha que quem está falando isso, é um não cristão! 

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