27 de outubro de 2014

Crônica: Compartilhe!

Todas as noites, sempre depois de minhas rotinas noturnas, eu retorno pelo mesmo caminho: desço a ladeira, dobro a primeira a esquerda, ando 50 metros, viro novamente a esquerda, faço uma diagonal, atravesso a linha do trem, pego a esquerda de novo; ufa, finalmente uma direita. Pronto, lá está o Senhor.

Todas as noites sempre encontro o mesmo idoso. As vezes sentado na calçada, as vezes distraído com o tempo; quase sempre olhando as estrelas;(sonhando com o que?). Ele fica sempre no mesmo lugar, ta sempre encostado há uma velha parede; lá está sempre, o mesmo homem. Calmo, Um metro e 60, 60 quilos... 60 anos...

Esse homem não me parece ser daqueles que vive uma certa loucura, do tipo que se interna em qualquer lugar e fica torcendo pra morte; muito menos me parece ser um daqueles homens da rua. Ele ta sempre "bem vestido", está sempre sorrindo, sempre me dando boa noite e sempre perguntando como estou.

Ele fica em um em lugar inóspito, longe da muita luz, escondido do espaço, como se não precisasse mostrar para as pessoas que está ali.

O que faz esse homem? O que aconteceu? Por que ele está sempre tão sozinho? Por que não o espanta a solidão? E por que esse sorriso tão melancólico, escondendo alguma tristeza? (Ou será eu que sou triste?)

Será ele o senhor dos sonhos perdidos? O dono do tempo? Aquele tipo de senhor com raiva da vida? Ou será o homem sábio que já deu tudo pro mundo e agora só resta a espera?

E sua família? Por onde anda? Será a cidade a sua família? O que há senhor? Por que não responde?

"A vida é tão abrupta e sozinho a dor tão é maior... Compartilhe..."

Compartilhe homem... Compartilhe...

Sempre a mesma dor... E sempre o mesmo homem...

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