15 de maio de 2022

Pessoas inquietas

Todo processo é simples: a primeira coisa que você deve fazer é encontrar um local confrotável; você pode estar deitado ou sentado, mas para inciante da prática, recomenda-se estar sentado. O primeiro exercício que se propõe para quem está começando é prestar atenção na respiração. Ar entra, ar sai... Inspira e expira calmamente, prestando atenção no fluxo que entra e sai do seu corpo enquanto foca no som do ar que agrega em seu pulmões.

Meditar é algo simples, então por que é tão difícil para as pessoas praticar meditação? Vamos TENTAR responder, listando três motivos, que não são únicos, mas que ao meu ver, são os básicos.

A inquietude

Ficar quieto vai contra nossa natureza. O ser humano antes de ser sedentário, era nômade; vagava pelo mundo de um canto para outro em busca de comida e de um local seguro. Esta inquietude era resultado da falta de comida, das intempérie do tempo e muito provavelmente das ameaças de outros predadores (somos predadores?); na presença de qualquer um dos elementos, ou de todos citados anteriormente, o mais rápido a se fazer é ir embora. Ir embora é o que estamos fazendo desde "a era das cavernas".

A coisa começa a mudar depois que, muito possivelmente, as mulheres dominaram e desenvolveram a agricultura. Esta, por sua vez, nos deixou mais territorialista e promoveu nosso senso de comunidade. É por causa da agricultura que criamos as "polis" e diminuimos nossa necessidade de sermos viajantes. Diminuimos, mas não eliminamos. Passamos a conviver mais tempo no mesmo lugar, mas sabe aquela vozinha chata que fica avisando a você que vai dá merda? É seu instinto primitivo que não foi perdido com o decorrer do tempo, e hoje ele fica falando a você que ficar sentado, fazendo "nada", vai dá merda.

O capitalismo 

(sim! vou por culpa no capitalismo).


Existe uma coisa fascinante no modelo econômico que nos governa e com certeza por isso, ele impera (ao menos no Brasil). Nosso modelo econômico é sustentado na ideia de que você sempre precisa de alguma coisa; sempre precisa ou vai precisar. De uma forma geral, a ideia de necessidade é alcançada através de propagandas que são veículadas das mais diversas formas e dos mais diversos meios. O objetivo da propaganda, ao contrário do que muitos podem afirmar, não é vender ou apresentar um produto, e sim, criar em você, novos pensamentos; e como ja disse aqui em outra publicação, pensamentos trazem sentimentos e sentimentos trazem ações. Todo mundo pensa > sente > age.

Sem entrar nos méritos de teorias conspiratórias, tá? Boa parte das coisas que você toma posse são inutéis e a outra boa parte são demasiadas. Boa parte das coisas que você tem e faz, assim o é, por que, de alguma forma te convenceram que, ou isso ou assim era bom. Fora que, se você não tem algo bom agora você poderá ter em breve. Basta se dedicar, economizar, se dedicar (de novo) e voilà: lá está você acordando às 5h da manhã, tomando banho e saindo de casa para vender pedaços de sua vida em troca de vales, que poderá ser trocado a cada 15 dias por coisas que vão além do que você precisa para sobreviver.

Nessa roda você acaba ficando sem tempo, o que é essencialemente irônico, por que tempo não é algo da qual se possa fazer posse. A ideia do "você não tem agora, mas poderá ter no futuro" insere em você duas coisas primorosas: a ideia do tempo e a ideia da perda, mas foquemos no tempo, a perda falarei mais embaixo. Cada minuto que você respira, que não seja dedicado ao rodizio pensa > sente > age, te põe mais longe daquilo que você pode ter, ou daquilo que você poderia ser. Pensar nisso tras uma afliação danada... Introduz em você o conceito de corrida e essa é muito bem aceita pelo corpo porque? Por que mexe com seu estado mais primitivo. Então a ideia aqui é: não fique parado! Não perca tempo! Prossiga!

O Pensamento dicotômico 

Uma das coisas que eu escrevi aqui nesse blog algum tempo atrás foi sobre o pensamento dicotômico. Até hoje é dos textos que mais me trás pessoas novas e está entre as mais lidas (obrigado a todas as 5 ou 6 pessoas que lêem o blog 😁😊).

Resumidamente, desde cedo somos condicionados a pensar que o número dois rege nossas vidas. Talvez não de forma proposital, mas, por consequência daquilo que observamos a nossa volta: vida/morte, claro/escuro, doce/salgado... O pensamento parece lógico e tão natural, que há quem diga que não cabe questionamentos. Mas cabe... (explcação no link mais a cima).

A ideia aqui é entender como a dualidade atrapalha no processo de meditação. A primeira coisa que acomete a paz de espirito quando se tenta meditar é sobre ficar quieto. Imediatamente o seu contrário
vem a tona, quando na verdade, não deveria haver o contrário. Quieto não é o contrário de inquieto. Quieto é só quieto, ou deveria ser uma coisa só, não duas.

De outro modo, ver o mundo de duas formas distintas, tras uma serie de prejuízos que muitas vezes se quer notamos. Se você não é filho de Elon Musk (ou Jeff Bezos) e foi criado por pessoas assalariadas que muitas vezes viu sobrar mês no seu salário, naturalmente você é uma pessoa instruída a procurar um porto seguro, depois de se tornar adulto. 

O medo de se perder, de não ter o que comer ou até mesmo a necessidade de se obter sucesso é algo que está presente na vida de todos os brasileiros (pelo menos se você não for rico). A ideia da perder é assustadoramente real, por fazer partes de nossas vidas desde sempre. Tanto que já entramos na fase adulta com metas a cumprir: conseguir logo uma casa (por que tras segurança), fazer uma reserva financeira (por que tras segurança), calcular sua próxima meta (por que tras segurança). Com essas instruções, saímos correndo ao mundo, dosando nossas ações com a régua da vitória vs derrota

Aqui, cada segundo "parado" é perda de tempo; cada minuto quieto, que não é investido na sua capacidade de consumir e juntar coisas inutéis, é perda de tempo; cada coisa não comprada que em pouco tempo virará lixo, é perda de tempo. Virá uma palavra grande agora: é transvalorização dos valores. 

Meditar tras diversos beneficios a saúde. É de graça, ocupa pouco espaço na vida e não é dificil. Só é algo que requer prática e rotina na sua vida. Se você não medita, minha sugestão é que comece lendo sobre. Se você já "tentou" e não conseguiu, tente outra vez. Talvez para você seja algo dificil, por casua de sua programação mental. E não há culpa nisso, é mais uma questão de entendimento. Somos programados a sermos inquietos. Fizeram a gente pensar que a vida é uma corrida e quem não está correndo está perdendo. E isso acaba fazendo sentido por causa de nossa primitividade e pela forma como governamos nossa economia. 

Medite!


Ps.: nesse texto, eu abordo sobre a forma clássica de meditação. Há diversas formas e técnicas. Para quem ta começando, comece pelo básico.

24 de abril de 2022

Crônica: Coração Negro

Eu não sei começar esse texto, nem sei para onde ele vai e nem tão pouco como ele acaba. Na verdade a única coisa que tenho consciência foi de ter acordado um dia e não ter te encontrado. 

Por favor! Não me encare como alguém de coração duro; não queria ser visto como uma pessoa forte e resiliente que aguenta qualquer parada. Na verdade, assim como tem sido com a causa do povo pobre e negro na periferia, eu também não tenho tido muitas escolhas. Viver tem sido uma luta constante e resistir é uma mera questão de sobrevivência. Nunca foi por algo revolucionário. Sempre foi sobrevivência. 

Não tenho opção! É sobrevivência! Meu coração é negro!

Então, não me leve a mal, nem pense que há um requinte de crueldade quando eu digo que não sinto sua falta. Eu acordei aquele dia e a senhora se foi e precisei seguir em frente. E segui, não por ser forte, mas por não ter outra saída.

É verdade que eu queria a essa altura do campeonato ter aprendido contigo a demonstrar amor dizendo "eu te amo!", mas não foi assim que aprendi. Óbvio que tenho boa parte da culpa e procurei mudar, mas o sabe o texto que escrevi sobre o tempo? Era sobre ti e ninguém entendeu... Eu não tive tempo! E é um pouco sobre isso...

Eu gostaria sim de ter podido dizer que te amo em palavras... E tudo bem, não foi assim que a senhora me ensinou...

A real é que nesse momento eu gostaria mesmo de olhar para ti e dizer que ta tudo bem, que sua história não foi em vão, mas por ti, também já discorri sobre o conceito falho de justiça (E sim! mais uma vez era sobre você!) e sei claramente que nada disso vai acontecer. 

A verdade é que nada está bem! A vida em hipótese nenhuma consegue ser justa e raramente encontramos amor de verdade. É mais uma necessidade. As pessoas continuam vivendo sob os mesmo aspectos cometendo os mesmo erros e as vezes é duro perceber que estamos caminhando rumo ao mesmo buraco. 

Nesse sentido mãe, sua partida fez bem... Por amor e entendimento, hoje eu percebo o quanto seria duro para senhora ter que conviver e se adaptar com o mundo atual. Logo a senhora que lutou e se adaptou tanto, não seira justo se dobrar de novo. Eu acho até que a senhora se deu bem, caso contrário hoje estaria compartilhando comigo a dor que carrego. E como dói!

Não é nem pelo fato de não ser entendido; não me incomoda mais que eles não me entendem; já estou acostumado a ter que me explicar em 95% das vezes que falo; dói mais não ser ouvido... Quase sempre tenho a impressão que estou preso em uma bolha com revestimento acústico a prova de som... Sabe a sensação que você está se afogando? Meus dias são assim com as palavras... Se adaptar não tem sido fácil, mas lembra que não tenho outra escolha?

Pois bem! Não tenho escolhas! Então, passei só para avisar que vivo e resisto! Tô por aqui... Com erros e falhas, com meu jeito peculiar, pondo em prática tudo que aprendi contigo, torcendo que a senhora encontre na morte, aquela felicidade que lhe foi ceifada em vida...

Enquanto isso, ainda estou vivo... Sem saber como começar ou acabar...


Mas continuo tentando!

3 de janeiro de 2022

Epitáfio

Já era dia alto quando Will abriu os olhos. Com dor de cabeça, teve a impressão de que poderia dormir por mais dois dias; pensamento fruto da insônia que passara nas últimas noites. Sem saber muito bem o que fazer naquele dia, seus pensamentos ainda viajavam por lembranças que a muito desejava ter esquecido... E isso o faz lembrar de seus planos... 
"Sim, havia um plano! Agora lembro o que fazer..." Pensou ele.

Por alguma razão, como se não tivesse mais tempo a perder, de um salto discreto, Will levanta-se da cama e se direciona ao seu pequeno guarda-roupa. 

"Pequena caixa". 

Reflexivo, recorda que o mundo há muito já não era mais o mesmo e embora presenciasse tempos de progressos, não conseguia entender o motivo pelo qual tantas pessoas ainda se comportavam de forma tão primitiva. 

"Pessoas gritam, gargalham, urram... O que há de errado com o silêncio?!" 

Em meio a baixa qualidade do silêncio, Will percebe, com um suave sorriso nos lábios, com a cabeça levemente inclinada para frente e para baixo, o motivo pelo qual as pessoas ainda são primitivas... 
Ele sabe a resposta... Não entende, mas sabe a resposta. Will descobriu a respota em um dia ensolarado bebendo água de coco.

"Irônico, não?!" 

2 de janeiro de 2022

Filtro Social

Um filtro é um dispositivo que serve para fazer separação de misturas de materiais. Utilizando o componente certo para o elemento correto, pode-se separar quase tudo, independente de ser líquido, sólido ou gasoso. Além do mais, com a técnica correta, consegue-se obter, inclusive, separação de misturas homogêneas

Basicamente, um filtro é um elemento poroso - que tem poros ou furos estupidamente pequenos (em escalas microscópias). Esses furos são chamados de micra, devido a sua escala. Um micra corresponde a dividir um milimetro por mil. Para se ter uma ideia, um fio de cabelo tem 75 micras, enquanto um grão de areia possui entre 200 a 500 micras. A micragem de um filtro de água geralmente está entre 5 a 25 micras. Retém bem, né não?

Talvez seja impossível datar, com precisão, o momento exato em que começamos a filtrar os elementos. Nesse aspecto, com certeza, a alquimia tem uma contribuição milenar indiscutível. Provavelmente foram os alquimistas os primeiros a trabalharem com separação de componentes e criarem técnicas de filtragem. Mesmo que assim não seja, o fato é que técnicas de separação estão conosco há milênios e junto com ela, a nossa espécie vive uma dança quase que inconsciente no mundo: misturar e separar; e vice-versa.