29 de janeiro de 2020

Maiêutica Socrática

O ser humano, pelo que consta a ciência, é um primata onívoro, bípede, de telencéfalo altamente desenvolvido e com polegar opositor que o distingue de outros mamíferos como as baleias, ou de outros bípedes, como as galinhas.

O telencéfalo desenvolvido é uma graça a parte; ele permitiu a espécie humana a criação de símbolos, associar esses símbolos a fonemas e assim construir palavras e desenvolver a fala; tudo isso possibilitou nossa especie a criar, armazenar, processar, relacionar e entender os mais diversos tipos de informações. O telencéfalo altamente desenvolvido, associado a capacidade de fazer pinça com os dedos nos possibilitou a criação de ferramentas incríveis.

Mas tudo que é incrível, ou crível na face da terra, o é sob nossos olhos; olhos humanos. Leões, ratos e elefantes não creem; a habilidade de pensar (e pinçar), diz respeito a especie humana. Isso deu a nossa especie a capacidade de modificar o meio de tal forma, que nunca antes na história, houve uma especie com tamanha habilidade de mudar o globo. De fato, as tamanhas transformações que estamos fazendo no planeta é tão grande, que tão logo chegamos a existir, tão logo partiremos.



A tamanha habilidade de criação da nossa especie nos capacitou a fazer coisas que inclusive, estão além de nossas limitações físicas. O homem nada e voa sem ter penas e escamas; anda quilômetros e quilômetros, mesmo tendo passos curtos; e gera informações. A quantidade de informações criada e publicada pelo que chamamos de ciência, está além da capacidade de processamento de nossa massa encefálica; a quantidade de coisas que criamos e chamamos de conhecimento, já atinge escalas infinitas, impossível de ser processada em uma vida; o tempo é escasso, a vida é escassa.

A noção de escassez de tempo e de vida trouxe a nossa especie um sentimento colateral: o sentimento de aflição. Saber que seus dias são uma contagem regressiva para deixar de existir na face da terra, traz angústia a nossa especie e a desafia a buscar meios de prolongar nossa vida.

A nossa especie não quer partir e para não partir cria coisas; e ao criar coisas, modifica o ambiente. Depois ficamos tão maravilhados com nós mesmos, com nossa simples habilidade de mudar o que já existe, que deixamos nos enganar com a ideia de que há uma sabedoria sobre todas as coisas.

Nós humanos, não criamos coisas, não inventamos coisas e NÃO sabemos das coisas!


O homem sábio é um primata de cérebro grande, de polegar opositor e com habilidades linguísticas, tentando se sentir especial em mundo que encaminha a sua própria extinção.


Nessa ótica, fica fácil perceber o quão pouco nós somos; a vida não depende de primatas para acontecer; tão pouco "vida inteligente" seja critério para que haja vida. O mundo não foi feito para os humanos e nem precisa de humanos para existir.

O ser humano é tão grande quanto sua própria insignificância e só não é maior que sua própria arrogância, de acreditar, que há um conhecimento que se possa medir...

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